"Ah! Vê o Extra!!!" Como assim vê o Extra? Antes, pelo menos, se esperava que os jornais fossem lidos!!! "Leia O Globo." Agora, a empresa parece ter focos bem diferentes com os dois jornais e isso também se traduz no slogan. Agora eles fazem um jornal pra ver, outro pra ler. O que será que isso significa politicamente?
Sabemos que com o crescimento da classe C, a Globo resolveu reconhecer esta nova grande classe como alvo de sua programação. Ivana Bentes e outros que assisti em workshops, já atentaram para este fato. Agora tem Malhação na favela, tem o Esquenta da Regina Casé com bandas populares, tem novela para supostamente homenagear as empregadas domésticas...
Enfim, as organizações Globo se renderam à classe C como mercado consumidor de seus produtos. Enquanto o jornal o Globo, que tem como público-alvo as classes mais altas, pode e deve ser lido, o mesmo não se espera do jornal Extra, voltado às classes “populares”. Fiquei intrigada pensando nisso... “Vê o Extra!”. O que isso significa, afinal? Para começo de conversa, usando o português correto, não seria “Veja o Extra?” Por acaso eles dizem “Lê o Globo (aí mano!)”. Bom, se é pra “vê” o Extra, será que é para ver as figuras? As fotos? Será que um jornal em formato de quadrinhos, com animações e pequenos balões de texto, apenas?
O que se pretende com isso? Um jornal para analfabetos? Para analfabetos funcionais? Uma espécie de cinema mudo estagnado, porque se acredita que vendo as figuras se entende a história? Será que se pretende infantilizar uma classe social? Será que se espera pouco dessas pessoas, em termos de construção de pensamento, reflexão e opinião? Mais do que se espera, será que se deseja que fiquem resignadas em VER um jornal?
Pensei que isto pode ser fruto de nosso tempo, de nossa cultura contemporânea do imediatismo, dos bancos de 30 horas, das refeições de fast food, das academias de 30 minutos... mas então, porque O Globo deve ser lido?
Ah! Já sei!!! (Grande inshigt neste momento...) Porque esta classe sim é formadora de opinião (classe média adora essa expressão!!!) E não é qualquer opinião! É a opinião que convém que uma classe dominante tenha! Ou de que maneira poderíamos manter o satus quo entre dominados e dominantes? Eureca!! Mas as coisas sempre foram assim, não? Então, o que mudou?
Pelo visto, as políticas de governo inclusivas (muito graças aos programas sociais que a galera que LÊ O Globo vive criticando ao dizer que Bolsa Família é pra dar dinheiro pra vagabundo e outros despautérios de quem nunca LEU nada que preste a respeito de política pública e acha que O Globo e VEJA são grandes e profundas fontes de leitura formadoras de opinião) que sabidamente tiraram milhões de pessoas da miséria absoluta, formaram esse inchaço significativo da classe C, que agora pode consumir e PASMEM... pode ter VOZ e não apenas VOTO. E pode ter um voto mais consciente e não trocá-lo por um saco de cimento. Eles podem comprar seu próprio cimento! Só que isso incomoda. Traz consequências. É melhor agora dar-lhes visibilidade social, puxar-lhes o saco, lhes fazer acreditar os acham importantes mas sempre os mantendo apenas vendo as figuras: de preferência figuras de mulheres peladas, atrocidades bizarras (redundância proposital) e atrizes principais da novela do momento. Mais entretenimento do que cultura. Mais sensacionalismo do que informação. "Porque pra pobre basta". Esse é o conceito de “Vê o Extra!”